quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Divido...

O jornalista possui a arte de escrever, organizar as palavras, expressar sentimentos por meio de textos...
Por isso, escrevi um texto em homenagem à minha avó, Maria Paula... Divido esse texto tão especial para mim...



Minha Vózinha

“Come minha filha, quer um biscoito? Um café?” Durante toda minha vida perdi a conta de quantas vezes eu ouvi essas frases da boca de minha avó. Algumas das vezes eu aceitava, outras não. Era só eu chegar à casa dela e lá vinha ela da cozinha, com uma xícara de café em uma mão e um biscoito de polvilho na outra. Sem contar os biscoitos que ela deixava embaixo do travesseiro e até dentro do guarda roupa.
Sempre morei perto de minha vó, ela era aquele tipo de vó que me defendia até o final. Confesso que às vezes eu podia até estar errada, mas lá estava ela, me defendendo. Cresci ao lado dela, e por isso dividimos momentos que ninguém nunca vai conseguir apagar. Lembro-me do gosto e do cheiro dos sequilhos e da broa de fubá. Ela adorava fazer guloseimas, uma das paixões da vida de minha vó era cozinhar.
Minha vózinha era doce e delicada, com um jeitinho que dá vontade de abraçar, sabe? Os cabelos pouquinhos e branquinhos estavam sempre presos. Os olhinhos brilhavam sempre. Ela andava devagarzinho, com passos de quem carregava uma longa história de vida. Contava casos intermináveis, e eu me divertia ouvindo cada um.
Casa de vó é um lugar único, um lugar onde vivemos e viajamos em nossas fantasias de criança. Tudo pode, tudo que queremos tem lá. Posso resumir a casa de minha vó em um reino, um lugar aonde os problemas não chegavam até mim.
Quando me perguntam sobre minha avó, a primeira coisa que me vem à cabeça é ela me ensinando a comer farinha com açúcar. Isso mesmo, a gente colocava em uma xícara metade açúcar e metade farinha de mandioca. Como o gosto era maravilhoso! Lembro-me também dela me ensinando a comer queijo com café, ela partia o queijo em pedacinhos e colocava dentro da xícara com café. Aí a gente esperava um pouco e comia o queijo molinho.
Por falar em café, ah eu como adorava tomar café com minha vó. O café dela era docinho, e eu adorava tomar com leite. O café de minha vó também é uns dos gostos que eu nunca vou esquecer!
Da vida ao lado de minha vó eu levo várias sensações, gostos inesquecíveis, cheiros inigualáveis, carinhos únicos e lembranças inapagáveis.
Agora, ela já está indo. A essência dela, acho que não está mais aqui. Vai vózinha, vai com Deus... A senhora já cumpriu sua missão aqui. E eu aproveitei cada minuto ao lado da senhora. Tenho certeza que não deixei de dizer nenhuma palavra, não deixei de dar nem de receber nenhum abraço, não deixei à senhora sozinha em nenhum momento que precisou de mim.
Depois de tantas histórias e tantos momentos intensos vividos, acho que a senhora merece um descanso. E como diz a música de Maria Gadu: De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu. Se queres partir ir embora, me olha da onde estiver... Me mostre um caminho agora, um jeito de estar sem você... Ó meu pai do céu, limpe tudo aí, vai chegar a rainha precisando dormir... Teu lar é no reino divino, limpinho cheirando alecrim...”


Moýsa Ribeiro




Minha vózinha se foi no dia 30 de dezembro de 2010.

2 comentários:

Thais Lima disse...

Meus sentimentos Moýsa..

Anônimo disse...

Meu sentimentos Moýsa.. (Thais Lima)